A criação do judô
O judô procura se diferenciar das demais modalidades de lutas através de seus
aspectos filosóficos e até mesmo ritualísticos, na medida em que resgata as tradições
japonesas de séculos passados (RUFFONI, 2004).
• Jigoro Kano procurou trabalhar qualidades como o relacionamento, a fraternidade, a disciplina, o civismo e o respeito, buscando disseminar uma nova luta mais esportiva, segura e sem segredos, que impedisse sua banalização, o que possibilitaria ser usufruído por todos, desde crianças até adultos em idade avançada (Ibidem, 1986).
Ao se preocupar em resgatar a cultura japonesa, Kano fez do Dojô (local onde se pratica o judô) um ambiente sagrado, onde os praticantes deveriam respeitar tanto o espaço quanto respeitam a si mesmos. Para isso, como grande símbolo de respeito é necessário tirar os sapatos e cumprimentá-lo antes de entrar no Dojô.
Jigoro Kano
O “Espírito do Judô”
Quando Jigoro Kano idealizou o que seria o judô, ele criou os princípios que norteariam
o praticante desta arte. Estes representariam o “Espírito do Judô”, que se compõe de duas
máximas e nove princípios.
As máximas do judô segundo Kano (1994) são conhecidas como: Seiryoku Zen’yo -
Máxima eficácia com o menor desprendimento energético; Jita Kyoei - Prosperidade e
benefícios mútuos.
Já os nove princípios do judô segundo Virgílio (1986) são: Conhecer-se é dominar-se, e dominar-se é triunfar; Quem teme perder já está vencido;Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade;Quando verificares, com tristeza, que nada sabes, terás feito teu primeiro progresso no aprendizado; Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário; quem venceste hoje poderá derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância; O judoca não se aperfeiçoa para lutar; luta para se aperfeiçoar; O judoca é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam e paciência para ensinar o que aprendeu aos seus companheiros; Saber cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, é o caminho do verdadeiro judoca; Praticar o judô é educar a mente a pensar com velocidade e exatidão, bem como ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo é uma arma cuja eficiência depende da precisão com que se usa a inteligência.
Ao ser observado o Shiai (Lutas), percebem-se os pais, que muitas vezes nunca fizeram
judô, com uma postura parecida com a dos técnicos, orientando os filhos e, em alguns casos, motivando atos violentos e cruéis que vão de encontro aos princípios preconizados por Jigoro Kano. Para a cultura ocidental, a vitória deve vir a qualquer custo. Logo, há atletas que não compreendem a filosofia do Shiai, onde “perder” e “ganhar” se assemelham pedagogicamente (BORGES, 2010).
Tradicionalmente são enfatizados vários princípios teóricos, como a humildade, hierarquia, respeito e disciplina. Porém, ultimamente percebe-se que esses princípios estão sendo cobrados pelos professores de uma forma pouco fundamentada teoricamente, não sendo tão clara a ética embutida na prática. Existem professores, que acreditam que seus trabalhos consistem apenas no adestramento físico-técnico, deixando de lado toda uma abordagem educacional que poderá auxiliar ao aluno a compreender criticamente a realidade social que vive. Para que o judô conseguisse manter sempre seu perfil comportamental e filosófico, Kano procurou esquematizar quatro pilares em que o aluno nunca deve esquecer: o respeito, a humildade, a honestidade e a lealdade. Respeitando esses valores, o judoca estará sempre se colocando acima de qualquer resultado que o torne um grande lutador, sem, contudo, perder as características do combate, com sua beleza, seu cavalheirismo e seu vigor na eficiência das técnicas. A essência do judô com suas objetivas sutilezas estão inseridas em todos os momentos de sua prática, e todo esse espetáculo criado, é o segredo que Kano deixou para que todos os alunos desvendassem ao decorrer dos treinamentos e da filosofia (MESQUITA, 1994)
O Desenvolvimento do judô pelo mundo
Por onde o professor Jigoro Kano passava, estudava cada vez mais sobre o judô, por isso obteve uma constante evolução, pois conseguia divulgar seus estudos, já que seu maior desejo era ver o judô como uma prática universal. Desta forma o judô começou a migrar por todo o mundo, incluindo o Brasil com a vinda de imigrantes japoneses, na maioria em São Paulo, servindo como fator essencial para o desenvolvimento do judô no nosso país. Praticado no mundo inteiro, o esporte teve sua primeira participação olímpica em Tóquio 1964 e se tornou definitivamente modalidade olímpica em Munique 1972.
A prática do judô pelo mundo foi muito influenciada por outras lutas de diferentes países da Europa. No entanto para as competições internacionais, os europeus começaram a utilizar em seus treinamentos, uma preparação física intensa, com excessiva utilização da força, contrariando os princípios básicos do judô, “Mínimo de força para o máximo de eficiência” (MESQUITA, 1994).
Uma vez o judô difundido pelo mundo, foram muitas as alterações e adaptações sofridas nas técnicas e métodos no ensino, mas a movimentação (Shintai) e a disputa pela melhor pegada (Kumi Kata) foram as que influenciaram aos judocas do ocidente para que conseguissem se consagrar campeões mundiais e olímpicos, já que a supremacia nas competições mundiais era dos orientais com seu judô técnico e elegante. Atualmente os judocas são na sua maioria atletas, e isso tem feito com que os aspectos filosóficos do judô sejam deixados de lado em prol do rendimento competitivo e do reconhecimento financeiro onde o judoca é treinado para ganhar sem as preocupações subjetivas do judô tal como sua filosofia, e sem as referências dos “mestres” tradicionais da modalidade. Atribui-se esse fato, provavelmente, a formação de diversos profissionais competentes, os quais o judoca tem contato, para influenciá-lo na sua preparação e oferecer melhores condições de treinamento dando também suporte financeiro. Com essas múltiplas influências os valores tradicionais do judô acabam sendo vistos apenas como histórico e vem sendo praticado da forma de uma cultura globalizada. Onde os “estilos” do judô são cada vez mais adaptados para competições internacionais por diversos países que misturam suas lutas típicas com o judô, tendo a prática diferente dos seus primórdios, que cada dia está mais diferente daquela criada pela filosofia do professor Jigoro Kano (MESQUITA, 1994).